Riscos Associados Ao Jogo Com “Subida Acentuada”

A consultora de risco de Steve Vickers acredita que os riscos geopolíticos envolvendo as operadoras de jogo poderão aumentar significativamente em 2019. A expectativa é justificada, em parte, com a eventual eleição de Ho Iat Seng para Chefe do Executivo no final do ano, uma vez que a consultora entende que o actual presidente da Assembleia Legislativa poderá optar por convidar companhias chinesas a entrar mo mercado ou recusar conceder “novos direitos” às actuais concessionárias

Inês Almeida

A situação geopolítica da RAEM ao longo do ano que ainda agora começou será uma espécie de “jogo de fortuna ou azar”, acredita a consultora de risco “Steve Vickers & Associates” devido a factores como as mudanças políticas, uma economia “vacilante” e as tensões ao nível das relações entre a China e os Estados Unidos, que podem representar “desafios” para os investidores.

Embora a nível político Macau deva permanecer estável, os riscos geopolíticos relacionados com as operadoras de jogo terão uma subida acentuada”, à qual os investidores devem estar atentos, defende a companhia. “Macau, leal a Pequim, não enfrenta os mesmos desafios do que Hong Kong. O Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, vai manter o controlo, pelo menos até abandonar o cargo no final do ano. O substituto mais provável será Ho Iat Seng, actual presidente da Assembleia Legislativa (AL)”, refere um relatório da “Steve Vickers & Associates”.

Com esta transição, é novamente trazida à tona a questão das licenças de jogo, que expiram no próximo ano e em 2022. Há vários cenários possíveis, acredita a consultora de risco, frisando no entanto, uma coisa é certa: a Administração não quererá desestabilizar o sector que é o principal motor da economia.

“Actualmente acredita-se que o Governo quererá prolongar as concessões até 2022 para lidar com todas ao mesmo tempo”. Pouco mais se sabe. “Fernando Chui Sai On prometeu dar algumas luzes sobre a política a meio de 2018, mas manteve desde aí” o silêncio, nota o documento.

No ano passado, o jogo cresceu 14% em termos anuais e correspondeu a mais de 80% das receitas da Administração da RAEM. Ainda assim, o Produto Interno Bruto abrandou devido a um decréscimo na procura doméstica na China Continental.

Na perspectiva da empresa de consultadoria, o Executivo terá ainda em atenção a geopolítica aquando da tomada de decisão sobre as licenças de jogo e, nesse contexto, as tensões entre a China e os Estados Unidos poderão levar Macau a “diluir o domínio sectorial dos casinos norte-americanos”, nomeadamente tendo em conta as ligações entre os magnatas do jogo e o Partido Republicano.

Tudo isto leva a “Steve Vickers & Associates” a ponderar um cenário diferente do actual. “O Governo de Macau pode chamar empresas chinesas para comprarem ou assumir o controlo dos actuais negócios ou poderá simplesmente recusar-se a conceder novos direitos às actuais concessionárias. Ho [Iat Seng], caso venha a ser Chefe do Executivo, poderá abraçar essa estratégia. Afinal de contas, ele destituiu juristas portugueses da AL e pode dar as boas-vindas a uma ‘sinificação’ semelhante no sector do jogo”.

Ao nível da segurança, há riscos diferentes e de “longa data”. “O mais importante é o profundo envolvimento das tríades nas promotoras de jogo, num problema perene que representa uma ameaça séria, criminal e ao nível da reputação para os investidores”, entende a consultora de risco de Steve Vickers.

A possibilidade de um ataque terrorista num casino é também apontada com uma “preocupação crónica”, porém, o relatório reconhece que a RAEM tem tomado algumas medidas para “limitar o perigo”.